A Fauna como inspiração da arte: Histórias em quadrinhos - Zé Carioca (Walt Disney)
Fonte da imagem: http://estudosediscussoes.com.br/a-magia-do-cinema/ze-carioca-leva-donald-a-bahia/
Em diversos sites e outras publicações conta-se a história por trás da origem e criação do personagem de Walt Disney conhecido por nós brasileiros como “Zé Carioca”. Algumas destas abordagens, ricamente ilustradas, estão relacionadas abaixo e vale a pena conhecer. É muito comum o termo HQ para histórias em quadrinhos.
- HQ Edição Especial Temporada 1 da HBO Plus. É um documentário de 2014 onde diversos especialistas e profissionais do ramo abordam inclusive a história do Zé Carioca. Neste mês de agosto/2017 está sendo possível assistir. http://br.hbomax.tv/serie/Hq---Edi%C3%A7%C3%A3o-Especial-01-Eps-01/501341/TTL600824
- Roberto E. dos Santos "Zé Carioca e a cultura brasileira" (2002). http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2002/Congresso2002_Anais/2002_NP16SANTOS.pdf
- Kristian Sgorla em O personagem Zé Carioca e a autocrítica de um estereótipo nacional na (Revista Trama ISSN 1981 4674 - Volume 12 – Número25 –2016, p.177 -204). pdffile:///E:/bibliografias/ze%20carioca/13874-51409-1-PB.pdf
- Caderno 3 do “Diário do Nordeste” (2007). http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/a-origem-do-ze-carioca-1.380136
- “Cinema Livre” traz o filme (necessa´rio se inscrever) e informações. http://cinemalivre.net/filme_aquarela_do_brasil_1942.php
- Osamu Nakagawa da “tvsinopse.kinghost.net”. http://www.tvsinopse.kinghost.net/art/z/ze-carioca.htm
Em linhas gerais, são abordadas, dentre
outras coisas: o momento histórico em que Walt Disney veio ao Brasil e os
objetivos desta visita; como surgiu o personagem Zé Carioca (quem participou
nas etapas de criação, na inspiração para composição do personagem, o filme que o lançou, quem fez a voz na
dublagem do filme); os diferentes nomes que ele recebe de acordo com o país/idioma
(“Joe Carioca”, “José Carioca”, “Pepe Carioca”); a sua chegada aos quadrinhos em
tiras de jornal, em revistas do Pato Donald até ter sua revista exclusiva. Enfim,
é a história por trás da estória. Ou seria “história por trás da história”? Para
isto confira o que dizem alguns estudiosos do assunto: "A palavra mais correta e socialmente aceita é história. A palavra estória aparece em dicionários e no vocabulário ortográfico da Academia Brasileira de Letras mas não é unanimemente aceita, sendo o seu uso condenado por muitos por se considerar uma “invenção” brasileira, sem necessidade de existir. Há também quem defenda que devemos utilizar o termo história para a narração de fatos documentados e situações reais sobre o passado da humanidade e o termo estória para a narração de fatos imaginários, de ficção" (https://duvidas.dicio.com.br/historia-ou-estoria/)
É certo também que através deste
personagem, seus filmes e suas histórias em quadrinhos, foram divulgadas muitas
coisas do Brasil: belezas naturais, modos de vida e costumes, lendas, a
cachaça, o samba e outros gêneros musicais, o jeito malandro (“jeitinho
brasileiro”), músicas e músicos da época, dentre outros. Há quem condene ou,
pelo menos, pede melhor representação do Brasil já que o estereótipo que o
personagem adquiriu após os dois filmes e sua entrada para as HQs é carregado de
malandragem, aversão ao trabalho, preguiça e outras coisas consideradas
negativas, pejorativas.
Mas nosso propósito aqui é falar sobre
o papagaio (espécie) por trás do
personagem.
Os papagaios brasileiros pertencem à
ordem dos Psittaciformes, à família dos Psittacidae (“psitacídeos”) (no Brasil com 86 espécies entre papagaios, araras, periquitos e afins segundo o CBRO, 2014: http://www.taxeus.com.br/listamaisinformacoes/2582) e ao gênero Amazona estando representados por 12 diferentes espécies (CBRO, 2015: http://www.taxeus.com.br/lista/7439). Então não existe apenas “o papagaio”, mas sim várias
espécies e com nomes diferentes dependendo da localidade de ocorrência. Muitas
vezes, quando criados como animal de estimação, xerimbambo ou pets, são genericamente denominados de “loro”. Ressalto aqui que criar animal silvestre brasileiro (no caso qualquer papagaio brasileiro do gênero Amazona ou os demais membros da família) é crime ambiental (Lei 9605 de 1998, demais Portarias e Instruções Normativas do órgão responsável - Ibama), salvo se for adquirido de criadouro comercial registrado no Ibama.
Este interesse pelos papagaios como pets geralmente está (ou esteve) relacionado
a sua capacidade de imitar, grifem IMITAR
sons, barulhos e a própria fala humana. Ressaltamos que apesar de muitos
acreditarem que eles “conversem” de fato e respondam aos seus “donos” trata-se
de um comportamento condicionado.
E este interesse é bem antigo. Laura
de Mello e Souza (2001) no artigo “O nome do Brasil” na Revista de História da USP
(n° 145) cita que a partir da sua descoberta pelos portugueses o Brasil já era
designado como “Terra dos papagaios” em alguns mapas como no Globo (“mapa mundi”)
de Schöner em 1520 e o de Ptolomeu de 1522. No “mapa de Cantino” (1502), que de
fato não o seu autor, já aprecem araras vermelhas junto ao pau-brasil nas
terras brasileiras.
Voltando ao personagem Zé Carioca, no
filme “Alô Amigos” (1942) completo (e não apenas no curta específico da parte
do Zé Carioca, este com cerca de 8 minutos apenas), que mistura imagens da
visita do pessoal dos estúdios de Walt Disney à América do Sul e os desenhos
animados produzidos e resultantes desta mesma visita, aparece uma espécie de
papagaio: o papagaio-do-mangue ou curica Amazona amazonica. Porém, cabe ressaltar que a fama de melhor “falador”
é do papagaio-verdadeiro Amazona aestiva, fato que o tornou muito
cobiçado como animal de estimação. Aliás, as duas espécies se parecem bastante:
são de cor geral verde, e têm amarelo e azul na cabeça. Mas existem algumas
sutis diferenças entre os dois (que podem não ser tão exatas dependendo da
subespécie):
Características
|
Amazona
amazonica
|
Amazona
aestiva
|
Encontro da asa
|
Amarelo ou verde
|
vermelho
|
Espelho alar
|
abóbora
|
vermelho
|
Bico
|
Claro com cinza
|
preto
|
Cauda
|
nódoas vermelhas
|
nódoas abóbora
|
Cores em volta dos
olhos
|
amarelo abaixo e azul
acima
|
amarelo acima e
abaixo
|
Tons de azul e
amarelo (cabeça: comparativo)
|
mais intensos
|
mais esmaecidos
|
Bem, o tal papagaio que aparece no
vídeo (Amazona amazonica) ocorre de
fato no Rio de Janeiro. Já o A. aestiva
não. Mas como espécie cobiçada para fins de estimação foi levado (e,
provavelmente ainda o seja) a diferentes lugares fora de sua área original de
ocorrência. Por outro lado, o papagaio-chauá ou papgaio-da-cabeça-vermelha Amazona rhodocorytha também tem ocorrência
no Estado do Rio de Janeiro e, no Estado vizinho do Espírito Santo, por exemplo,
onde também ocorre, já foi amplamente usado como pet e, pela minha experiência, já foi um dos mais encontrados em
residências bem como um dos mais apreendidos no tráfico ilegal deste Estado
(observação pessoal).
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Espécie que aparece no filme "Alô amigos": papagaio-do-mangue ou curuca Amazona amazonica. O amarelo da cabeça é atravessado por uma faixa azul. (Foto: Pedro Paz) |
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Note o vermelho escarlate na região do "encontro" da asa e o amarelo forte acima e abaixo dos olhos do papagaio-verdadeiro Amazona aestiva. (Foto: Pedro Paz) |
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Uma das espécies de papagaios apreciada como pet: papagaio-da-cabeça-vermelha ou papagaio-chauá Amazona rhodocorytha. (Foto: Pedro Paz) |
De fato, fica um pouco difícil
afirmar se uma espécie em particular inspirou a criação do Zé Carioca. A
mostrada no filme, as duas citadas aqui ou qualquer outra. Analisando as
características do personagem:
- Parte visível da plumagem do corpo: verde.
- Bico: amarelo.
- Cauda: vermelha e azul ou verde.
Nos links abaixo o acesso aos dois filmes completos onde aparecem o Zé Carioca.
Alô Amigos
Você já foi a Bahia?
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